segunda-feira, março 20, 2006

Pequeno conto negro

Era uma vez um rapaz tão bem comportado, tão bem comportado que até corrigia os erros ortográficos dos graffiti. Ouçam bem, ele era tão certinho que até lia as consoantes mudas das palavras: "baptismo", "factura"... Vivia num condomínio fechado que não permitia a entrada de animais, tabaco ou telemóveis com toques polifónicos (muito menos reais). Até os germes evitavam o seu corpo. Era tudo demasiado asséptico, impróprio para o bom desenvolvimento das bactérias.
Um dia, com a mesma disciplina, carregou uma Winchester semi-automática, virou a ponteira para si e disparou à queima-roupa. Não sem antes deixar um bilhete à mulher a pedir-lhe, por favor, que depois limpasse a parede com um pano humedecido. Para os móveis seria preciso usar um preparado de lixívia diluída à razão de 10 a 150 dl por litro de água quente.

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