No dia 25 de Maio de 1977, a minha mãe estava por esta hora sentada na sala de um vizinho nosso, o Tójó, à espera que acabasse o jogo Liverpool-Borussia Möchengladbach, a contar para a Taça da Europa, que o clube inglês acabou por vencer (3-1).
O caso não seria aqui relatado se ela não estivesse grávida de nove meses, com contracções ligeiras e com "as águas" prestes a rebentar. Mas como o meu pai não tinha carro, a grávida era paciente e o Tójó contava ver o triunfo do Liverpool antes de se fazer ao caminho, eles lá ficaram, entre tremoços e amendoins, até que eu resolvi pôr fim àquele regabofe e fazer-me anunciar ao mundo através de contracções mais frequentes e dolorosas (eu sei, mãezinha, desculpa lá).
Constatadas as evidências e com pouca vontade de produzirem um parto doméstico, os homens lá conduziram a minha mãe até à maternidade. Uma vez chegada, as enfermeiras acondicionaram-na na respectiva maca e debandaram em grupo aos primeiros acordes do genérico de "Gabriela, Cravo e Canela". Três anos depois da revolução, este era agora o cravo que interessava aos portugueses. Lá fiquei mais um bocadinho. Não quis privar as parteiras do amor entre a mulata brasileira e o árabe Nacib.
Só nasci por volta da 1h30 do dia 26, quando a única coisa que dava na televisão àquela hora era a mira técnica.
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