quinta-feira, julho 05, 2007

Os taxistas

Feita a promessa num comentário a um post anterior, aqui vai a paga: as minhas histórias com taxistas.

O taxista é um indivíduo que, por norma, aceita com dificuldade a existência de raças diferentes da caucasiana. Quando eu trabalhava em Lisboa e me pagavam as deslocações diárias para o jornal (a uma hora em que ainda não havia metro), era raro o dia em que, à passagem pelas filas de pessoas que se formavam à entrada do SEF (então às portas do edifício do Público) , o taxista não soltasse o clássico - "É pá, quem é que apagou a luz?". Uma vez apanhei um que, ao passar por um carro vermelho todo pimpão cheio de pessoas não-caucasianas-a-fugir-para-o-escurinho lá dentro, me abordou nestes termos: "Está a ver isto? Este carro é roubado, de certeza, que esta gente não tem dinheiro para estas coisas". Eu fiquei em silêncio, mas na minha cabeça furei-lhe os quatro pneus e arranquei-lhe à paulada o símbolo da Mercedes.

Numa outra ocasião conheci um taxista-escritor, um exemplar mais raro, que só me lembro de ter apanhado dessa vez. Nunca mais me esqueci do encontro porque ainda hoje guardo o livro que ele me vendeu - por 500 escudos - ali mesmo, numa livraria ensaiada entre o banco da frente e o banco de trás. A obra chama-se "Quando a Coca-cola fez trezentos anos - Porno-ficção sem crianças nem animais" (ver imagem abaixo, para comprovar que não estou a mentir).




O resumo da obra, da autoria do taxista-romancista Rui Filipe Torres (Edições Dolly), fica para outro post.

2 comentários:

Olavo Lüpia disse...

«Porno-ficção sem crianças nem animais, mas com um diplomata, uma andróide, leite de baleia, um guia espiritual no deserto, no tempo em que os homens deixaram de morrer e vários outros etecéteras»
Muito bom!
Melhor ainda, eu não sabia que o Brett Anderson dos Suede era taxista. Mas devia ter desconfiado...

MJ disse...

Conta a história do livro, susi, please! Adoro histórias de taxistas!

Não te contei que uma vez, tb em lisboa, um taxista que me ouviu falar ao telefone com o andré sobre o meu gato, o Fellini, me disse, quando acabei o telefonema, que conhecia mto bem o Fellini, não o meu gato, mas o próprio, o do cinema? :)
que já o tinha acompanhado em diversas filmagens :)