sábado, novembro 29, 2008
quinta-feira, novembro 27, 2008
terça-feira, novembro 25, 2008
Timor: o estado da nação
1. Timor não é um Estado falhado. É pior. Falhou o projecto nacional idealizado há uma década
Em nove anos de liberdade, Timor-Leste não conseguiu assegurar água, luz e esgotos para a sua pequena capital. Baucau, a segunda "cidade", é uma versão apenas ajardinada da favela que é Díli, graças à gestão autárquica (oficiosa) do bispado. O resto, nos "distritos", é um país de cordilheiras que vive o neolítico como quotidiano, longe do mínimo humano aceitável. Chega-se lá pelas estradas e picadas deixadas pelos "indonésios". Há estradas principais onde não entrou uma picareta desde 1999. O bem público e as necessidades do povo são ignorados há nove anos com um desprezo obsceno. O melhor exemplo é a companhia de electricidade: durante cinco anos, a central de Díli não teve manutenção de nenhum dos 14 geradores - todos oferecidos -, até que a última máquina de grande potência resfolegou. O Hospital Nacional Guido Valadares, onde se inaugura esta semana instalações rutilantes, não teve até hoje um ecógrafo decente nem ventiladores nos Cuidados Intensivos. Não há um TAC no país (embora custe o mesmo que dois dos novos carros dos deputados); a menina timorense com que Portugal se comove teve o tumor diagnosticado pelo acaso de um navio-hospital americano que lançou âncora em Díli. A taxa de mortalidade infantil é apenas superada a nível mundial pelo Afeganistão. A mortalidade pós-parto é assustadora. Entretanto, cada mulher timorense em idade fértil tem em média 7,6 filhos. Circulam entre diplomatas e humanitários os "transparentes" de um relatório do Banco Mundial que conclui que "a pobreza aumentou significativamente" entre 2001 e 2007 (um balanço arrasador do consulado Fretilin, porque o estudo usa indicadores até 2006). Cerca de metade dos timorenses vive com menos de 60 cêntimos de euro por dia e, desses, metade são crianças. Timor é um país rico atolado na indigência, onde os líderes se insultam por causa de orçamentos que ninguém tem sequer unhas para gastar.
(excerto de um testemunho do jornalista Pedro Rosa Mendes no Público de hoje. Leiam tudo aqui)
Em nove anos de liberdade, Timor-Leste não conseguiu assegurar água, luz e esgotos para a sua pequena capital. Baucau, a segunda "cidade", é uma versão apenas ajardinada da favela que é Díli, graças à gestão autárquica (oficiosa) do bispado. O resto, nos "distritos", é um país de cordilheiras que vive o neolítico como quotidiano, longe do mínimo humano aceitável. Chega-se lá pelas estradas e picadas deixadas pelos "indonésios". Há estradas principais onde não entrou uma picareta desde 1999. O bem público e as necessidades do povo são ignorados há nove anos com um desprezo obsceno. O melhor exemplo é a companhia de electricidade: durante cinco anos, a central de Díli não teve manutenção de nenhum dos 14 geradores - todos oferecidos -, até que a última máquina de grande potência resfolegou. O Hospital Nacional Guido Valadares, onde se inaugura esta semana instalações rutilantes, não teve até hoje um ecógrafo decente nem ventiladores nos Cuidados Intensivos. Não há um TAC no país (embora custe o mesmo que dois dos novos carros dos deputados); a menina timorense com que Portugal se comove teve o tumor diagnosticado pelo acaso de um navio-hospital americano que lançou âncora em Díli. A taxa de mortalidade infantil é apenas superada a nível mundial pelo Afeganistão. A mortalidade pós-parto é assustadora. Entretanto, cada mulher timorense em idade fértil tem em média 7,6 filhos. Circulam entre diplomatas e humanitários os "transparentes" de um relatório do Banco Mundial que conclui que "a pobreza aumentou significativamente" entre 2001 e 2007 (um balanço arrasador do consulado Fretilin, porque o estudo usa indicadores até 2006). Cerca de metade dos timorenses vive com menos de 60 cêntimos de euro por dia e, desses, metade são crianças. Timor é um país rico atolado na indigência, onde os líderes se insultam por causa de orçamentos que ninguém tem sequer unhas para gastar.
(excerto de um testemunho do jornalista Pedro Rosa Mendes no Público de hoje. Leiam tudo aqui)
segunda-feira, novembro 17, 2008
Sobre os portugueses no estrangeiro
Ah, os portugueses no estrangeiro, essa odisseia. Ponha-se dois homens oriundos da mesma terra beirã a partilhar vizinhança em Lisboa e a única coisa que se lhes conseguirá arrancar da garganta durante anos a fio é um “bom dia” ladrado à queima-roupa, com maus modos e contrariedade.
Mas ponha-se um portista gelatinoso e bairrista e um lisboeta frequentador do Lux e da Cinemateca num mesmo resort turístico no estrangeiro e eles tornam-se instantaneamente amigos. Parece magia. No estrangeiro, os portugueses atraem-se como magnetos com o cio. Toda a gente quer dizer de onde veio, para onde vai e quais os efeitos da gastronomia local nas respectivas tripas. Em destinos tropicais “tudo incluído” o “Macaco” seria amigo do “Barbas”, o Vasco Pulido Valente leria a obra completa do Miguel Sousa Tavares enquanto lhe afagava a nuca e o capuchinho vermelho e o lobo mau abririam em parceria um lar de geriatria. Nos resorts os portugueses são todos comparsas, filhos do Rectângulo, descendentes directos do Henriques, o conquistador.
Sucede que estive durante a semana passada num desses resorts. Logo no avião vinham ataviadas duas moças que passo a descrever: bota branca de cano alto (com salto agulha metalizado e pedraria incrustada, pois claro), microsaias, tops de cetim, extensões no cabelo, piercings à descrição, decotes generosos, tatuagens à vontade e, meus amigos, uma manicure francesa que faria a Florence Griffith-Joyner parecer uma mulher-a-dias com unhas ratadas.
[Já agora, num aparte, existe para estas pessoas um nome “marca-produto” que não fui eu que inventei e que, admito, pode até ser ligeiramente cruel, mas que é suficientemente acertado - e, vá, divertido – para podermos aqui prescindir dele: estas moças eram umas “super badalhocas”. SB’s, para os amigos. E para que não se diga que isto é coisa de machistas pudicos e mulheres enjeitadas, esclareça-se que o termo também existe no masculino. São os SB’s. Bom, mas dizíamos então que chegam as SB’s carregadas de malas ao resort.]
Nessa noite, pedindo nós a misericordiosa caipirinha de arranque das festividades, abeiram-se três jovens do balcão, batem com o punho no estaminé e gritam ao barman, em voz alta e galhofeira, que “a seguir a estas duas caipirinhas dê-lhes mais duas que pagamos nós”. Nós rimo-nos mas fugimos antes que se nos pudessem ancorar ao pescoço e começar a tratar por colegas. Mas isso somos nós, que tivemos cagufa e vergonha. Perdemos um serão divertido, seguramente, mas conservámos balanço e intestinos. Às vezes a vida é feita destes dilemas que de certeza já atormentariam Platão na Antiguidade grega se nessa altura houvesse resorts.
Bom, mas o que importa aqui reter é que no dia seguinte de manhã já as duas SB’s se deitavam nas mesmas espreguiçadeiras dos três mancebos, em arriscadas construções em altura; já os jovens casais se metiam com os desacasalados e já as tias do bronze confraternizavam com patriotas, um dos quais cometeu a façanha de levar para uma ex-colónia uma t-shirt em que se lia “Ex-combatentes da Guiné – regimento de artilharia”.
Mas ponha-se um portista gelatinoso e bairrista e um lisboeta frequentador do Lux e da Cinemateca num mesmo resort turístico no estrangeiro e eles tornam-se instantaneamente amigos. Parece magia. No estrangeiro, os portugueses atraem-se como magnetos com o cio. Toda a gente quer dizer de onde veio, para onde vai e quais os efeitos da gastronomia local nas respectivas tripas. Em destinos tropicais “tudo incluído” o “Macaco” seria amigo do “Barbas”, o Vasco Pulido Valente leria a obra completa do Miguel Sousa Tavares enquanto lhe afagava a nuca e o capuchinho vermelho e o lobo mau abririam em parceria um lar de geriatria. Nos resorts os portugueses são todos comparsas, filhos do Rectângulo, descendentes directos do Henriques, o conquistador.
Sucede que estive durante a semana passada num desses resorts. Logo no avião vinham ataviadas duas moças que passo a descrever: bota branca de cano alto (com salto agulha metalizado e pedraria incrustada, pois claro), microsaias, tops de cetim, extensões no cabelo, piercings à descrição, decotes generosos, tatuagens à vontade e, meus amigos, uma manicure francesa que faria a Florence Griffith-Joyner parecer uma mulher-a-dias com unhas ratadas.
[Já agora, num aparte, existe para estas pessoas um nome “marca-produto” que não fui eu que inventei e que, admito, pode até ser ligeiramente cruel, mas que é suficientemente acertado - e, vá, divertido – para podermos aqui prescindir dele: estas moças eram umas “super badalhocas”. SB’s, para os amigos. E para que não se diga que isto é coisa de machistas pudicos e mulheres enjeitadas, esclareça-se que o termo também existe no masculino. São os SB’s. Bom, mas dizíamos então que chegam as SB’s carregadas de malas ao resort.]
Nessa noite, pedindo nós a misericordiosa caipirinha de arranque das festividades, abeiram-se três jovens do balcão, batem com o punho no estaminé e gritam ao barman, em voz alta e galhofeira, que “a seguir a estas duas caipirinhas dê-lhes mais duas que pagamos nós”. Nós rimo-nos mas fugimos antes que se nos pudessem ancorar ao pescoço e começar a tratar por colegas. Mas isso somos nós, que tivemos cagufa e vergonha. Perdemos um serão divertido, seguramente, mas conservámos balanço e intestinos. Às vezes a vida é feita destes dilemas que de certeza já atormentariam Platão na Antiguidade grega se nessa altura houvesse resorts.
Bom, mas o que importa aqui reter é que no dia seguinte de manhã já as duas SB’s se deitavam nas mesmas espreguiçadeiras dos três mancebos, em arriscadas construções em altura; já os jovens casais se metiam com os desacasalados e já as tias do bronze confraternizavam com patriotas, um dos quais cometeu a façanha de levar para uma ex-colónia uma t-shirt em que se lia “Ex-combatentes da Guiné – regimento de artilharia”.
sexta-feira, novembro 07, 2008
Afinal ainda aqui vim outra vez
Afinal ainda aqui vim
Baixa de Coimbra. 18h00. Quiosque cheio de gente a querer entregar o Euromilhões. Entra um casal.
Ele grita: "Ai valha-me Nossa Senhora dos Grelos!"
Ela: bigode, crânio achatado e incisivos em V
A senhora do quiosque: Ah! Olha esta, tem uma carinha tão engraçada...
Ele grita: "Ai valha-me Nossa Senhora dos Grelos!"
Ela: bigode, crânio achatado e incisivos em V
A senhora do quiosque: Ah! Olha esta, tem uma carinha tão engraçada...
Cenas, coiso e tal e até já
Agora que o mundo está mais tranquilo [graças aos cordelinhos puxados por esta vossa escriba, que decidiu as eleições nos EUA fazendo apenas alguns telefonemas... ora essa, não têm nada que agradecer... afinal de contas a Sarah Palin cavou a própria cova e empurrou o McCain para o buraco... Tecnicamente até um afro-americano com nome de muçulmano ganhava a esta dupla...] posso finalmente descansar. Vou de férias. Para Cabo Verde. Se encontrar por lá um Barack Obama, importo-o a tempo das legislativas, a ver se nos voltamos a entusiasmar com isto da política.
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